a solidão necessária para se aproximar do outro, não, da outra. para se enxergar e pôr no papel, melhor, na folha, para que uma mulher passe os olhos, digo, a visão, sobre todo o meu corpo, perdão, minha matéria e substância, e possa ler nas entrelinhas e linhas de expressão, nas marcas, não de roupa, mas de tempo, droga, da idade, todas elas inscritas na minha pele, um discurso, não, palestra, sobre o ser nós e o ser eu, sobre a coletividade impressa na indivídua; sujeitas subjetivas não subordinadas.
todo o meu escrito é mulher, ou melhor, toda a minha escrita é mulher, pra mulher, de mulher, em mulher. mesmo que não se saiba o que é. essas letras são mulheres, a tinta impressa será mulher, o toque no teclado foi mulher, os olhos que leem são mulheres.
tudo que sai de mim se esvai pra preencher nós. mulher. minha dor é mulher. minha amor é mulher. minha pensar é mulher. minha escrever, também mulher. minha verbo é verba que sustenta o ser mulher, a poesia nada poética dessa linharada escrita por uma mulher que não sabe fazer poesia mas sente a poesia na carne. e sabe quem é, e é mulher, visível, saída da terra enterrada, saída da casa trancada, saída da sombra.
e se perguntarem se importa ser mulher eu digo
sou
e se perguntarem o que é mulher eu respondo
sou
e se mandarem calar a mulher eu grito
sou
e saio mulher,
de mãos dadas com outra.
Sobre a Autora
Thalita Coelho é escritora lésbica e doutoranda em Teoria Literária na linha de pesquisa Crítica feminista e Estudos de gênero pela UFSC. É autora do livro de poesias Terra Molhada (Editora Patuá, 2018). Publicou seu primeiro poema aos 10 anos.
CADASTRE O SEU EMAIL PARA RECEBER OUTROS TEXTOS DO PROJETO ♥